O pequeno e o grande empreendedor podem compartilhar a mesma cultura
25 de fevereiro de 2016
Diariamente nos deparamos com toneladas (literalmente) de desafios na vida empreendedora. Os imprevistos e contratempos são uma constante tão intensa que, se não tivermos um objetivo bem definido (pessoal e empresarial), corremos o risco de nos afogar numa poça de água antes de conseguir avistar a saída.
O que quero dizer é que uma visão bem clara e simples de futuro – ou “sonho grande” – é fundamental para ir além do próprio nariz e nos ajuda a colocar os problemas diários na devida perspectiva e significância. E assim resolver o que quer que seja, com a menor perda de tempo e energia possível.
Acredito que a qualidade da equipe, das pessoas e, em definitivo, da empresa, é nada mais do que a média de quem faz parte. Sócios, funcionários, fornecedores, vizinhos e clientes. Todos contribuímos para que a média de vida da empresa suba ou desça. Por isso a necessidade de sempre melhorar, aprender e rapidamente se adaptar. Queremos ser os melhores sócios, os melhores lideres, os melhores funcionários, os melhores clientes. Procuramos sempre a melhor matéria prima, a melhor máquina, a melhor solução, o melhor produto. E o resultado visível, depois de tantos pequenos esforços de tantas pessoas, é o que nós chamamos finalmente de “nossa empresa”.
Assisti há alguns anos a uma palestra do Carlos Brito, CEO da ABInBev que me marcou muito na época. Foi importante para fortalecer e unificar minhas crenças de gestão e me ajudou a organizar melhor o sistema de trabalho que hoje praticamos. Revisando minhas anotações feitas na ocasião, percebo que passaram os anos e esses conceitos não apenas tiveram uma influência profunda, como a cada dia fazem mais sentido para todos nós no Pastificio PRIMO, e assim construímos uma cultura de trabalho que busca “o sonho”.
Não leia se você não gosta de trabalho duro.
Foco. Foco! Manter poucos objetivos, mas com grande intensidade. Estar focado é realmente importante para não se perder no caminho, das tantas tentações e pressões. Escolher poucos objetivos, não dá para tomar conta de muitos. O foco dá uma clareza na empresa toda, todos se alinham e a sinergia acontece. Foco no resultado, caso contrário a empresa morre.
Senso de urgência. É agora, é hoje, já. A cada segundo tem consumidores tomando decisões de compra, escolhendo este ou aquele produto. Seja nossa empresa ou a concorrência, melhor que seja nossa empresa! Não deixa para amanhã o que pode ser feito hoje! Como disse Mestre Yoda: Faça, ou não. Tentativa não há.
Capacidade de se indignar. Nunca ficar conformado com o resultado ruim. Isso não é normal. Precisamos sentir que o resultado ruim incomoda, que ninguém seja indiferente ao que está errado, que ações sejam geradas para contra-atacar os resultados ruins e gerar resultados melhores.
Gostar do trabalho. Procurar fazer aquilo que se gosta, pois a vida profissional e pessoal estão cada vez mais ligadas, e são necessárias muitas horas de dedicação ao trabalho para realmente fazer algo de destaque, algo que seja relevante na vida, no mercado e no futuro. De novo, precisa haver um sonho para “chegar lá”. Cada um tem suas metas e objetivos pessoais a alcançar. Quanto mais claro estiver o sonho da pessoa, mais rápido ela compreende o que é necessário para alcança-lo e mais fácil trabalhar com satisfação.
Ser o dono da empresa. Cada pessoa que trabalha na empresa é, ao final das contas, um dono. Em especial os líderes, que são fonte de inspiração propagando nas equopes o senso de cuidado e propriedade, de responsabilidades. Não são todos que entendem a sutileza, mas queremos justamente esses poucos trabalhando conosco. É um estilo de vida de maior comprometimento para aqueles que percebem que a empresa é um forte canal para realizar sonhos, sejam pessoais ou profissionais. A empresa não é o destino, e sim o trem que nos leva mais perto de nosso sonho.
A execução é fundamental. Às vezes temos uma ideia brilhante e uma execução pobre. É terrível. Muito melhor o contrário: uma ideia não tão boa, mas uma execução brilhante. Pronto. A execução muitas vezes é relegada a segundo plano, o que é um grande erro, e geralmente um grande desperdício de dinheiro. Quem fez o plano tem que estar na linha de frente defendendo a execução, nunca de uma sala fechada através de relatórios de terceiros. Simples assim.
Justiça. Tratar todos da mesma forma é injusto. É importante tratar diferente às pessoas que são diferentes. Isso inclui premiação e novas oportunidades. As pessoas são remuneradas de acordo com a sua contribuição. Todos têm a mesma oportunidade, mas alguns que se dedicaram e entregaram mais, logicamente merecem ser melhor remunerados.
Gastar a sola do sapato. Vale a pena estar em campo, estar na fábrica, estar na rua, junto com a equipe. Em vez de ficar lendo relatório de uma pessoa que gastou tempo enorme para ver e relatar, melhor é você ir direto na fonte e economiza um intermediário. O olho do dono interpreta coisas de forma diferente, com foco no grande plano. O empreendedor precisa evitar os filtros de outras pessoas falando, tem que ver e ouvir por pessoalmente.
Ter as melhores pessoas. Tudo no mercado é facilmente copiável. Um produto novo em 2 meses o concorrente pode estar fazendo igual. Uma embalagem diferente em pouco tempo todos fazem igual. Quase tudo é altamente temporário. A única coisa que é realmente um valor de longo prazo é ter pessoas talentosas dentro da empresa. E pessoas talentosas somente ficam na empresa se encontrarem um ambiente específico:
1 – Meritocracia: uma cultura que valorize e remunere o resultado, a contribuição. Está muito ligado a ser justo com as pessoas. Aqueles que trazem resultados maiores para a empresa, tenham melhor premiação.
2 – Informalidade: poder dizer o que pensa, ter acesso fácil a todos os que estão acima ou abaixo na hierarquia, poder dar opiniões num ambiente de confiança e respeito, Sentir-se seguro para desenvolver o trabalho e arriscar, ser relevante.
3 – Simplicidade: pessoas inteligentes e talentosas gostam da simplicidade, porque sabem onde querem chegar, com objetividade, sem muita firula, sem desperdício de energia. E, por outro lado, fica o alerta: pessoas que fazem as coisas de um jeito que só elas entendem, complicado, terminam por esconder uma ineficiência e uma falta de talento para o jogo. Um verdadeiro talento numa organização, numa empreitada ou numa empresa é transformar uma coisa muito complicada em algo simples a que todos tenham acesso.
Sonhar grande, como sempre diz Jorge Paulo Lemann. Dá o mesmo trabalho sonhar grande do que pequeno. Claro que o sonho precisa ser baseado em algum planejamento, em conhecimento, em talento. Dá pra imaginar uns 60% de como chegar lá e os demais 40% vai ser descoberto na medida que vai andando e ajustado com os diversos tropeços e aprendizados. Mãos na massa!
Afinal, poucas pessoas gostam de trabalhar assim, mas os que gostam, são dos nossos. E são essas pessoas que nos interessam como colegas de trabalho. E é por elas que dedicamos nosso esforço de criar u ambiente de crescimento e desafios, de remuneração crescente, que é o que atrai e mantém os talentos na casa. É um sistema que não é bom nem ruim, apenas funciona para esse grupo de pessoas que tem sonhos a realizar.
Fonte: Blog do empreendedor